29/10/2020

O que você precisa saber para falar sobre abuso com as crianças

Como falar com as crianças sobre isso? O que você precisa saber para falar sobre abuso com as crianças. 

 

Você já conversou sobre abuso com o seu filho? O tema é sério e não se assuste se vier um desconforto, mas acredite, é importante falarmos disso.

 

Por ser algo sério e sensível, é comum pais se sentirem constrangidos em tocar no assunto e até em buscar informações. Negar ou fugir não é uma opção. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 2019 foram registradas cerca de 17 mil denúncias de violência sexual, são 3 crianças e adolescentes sendo abusados a cada hora em todo o país.

 

Um dos principais meios de prevenção é o diálogo, mas é um assunto que a maioria tem medo de abordar, não é pra menos, o assunto é bem delicado. Pensando em ajudar esses pais, o escritor Tino Freitas escreveu o livro Leila, que narra a história de uma jovem baleia que foi assediada no fundo do mar. Com medo, ela até desiste de nadar, mas com ajuda de amigos ela consegue se fortalecer e dar a volta por cima.  Não se preocupe, o autor e a ilustradora conseguiram contextualizar o assunto de forma simples, fazendo com que o livro seja leve e funcione como uma ponte entre pais e filhos.

 

No dia 27 de outubro, o Grupo Editorial Lê realizou um encontro entre o escritor Tino Freitas e a Professora Dra. Cassandra França, especialista em psicologia clínica, para falarem sobre o processo de criação do livro Leila, a abordagem do Abuso Infantil em publicações e a realidade social do tema. Confira como foi.

 


Confira as orientações publicadas pelo HuffPost US, que conversou com educadores especializados em sexualidade para tratar o assunto em casa e na escola.

 

 

Desde cedo, comece a estabelecer autonomia sobre o corpo, privacidade e mais

 

Os pais podem estabelecer uma fundação de segurança desde a mais tenra idade da criança, diz Melissa Carnagey. Os termos corretos para a genitália, em vez de nomes fofinhos, empoderam as crianças a falar claramente sobre elas mesmas e sobre seus corpos.

“Fazendo isso, os pais criam uma cultura doméstica aberta e livre de vergonha no que diz respeito ao corpo”, diz Carnagey ao HuffPost, em entrevista por email. “Quando a criança está na idade da pré-escola, os pais podem ajudá-la a entender os limites do corpo e o consentimento, prestando atenção quando ela diz ‘não’ ou ‘pare’ e reforçando a importância de também respeitar os limites do outro.”

 

Converse sobre sentimentos

 

“Quando as crianças sabem o nome das emoções que sentem e são capazes de reconhecer as respostas emocionais dos outros, elas aprendem a expressar suas necessidades, a ter empatia e a ouvir os sinais do corpo, especialmente em situações em que estão pouco à vontade”, diz Carnagey.

“Temos de falar de sensações boas e ruins nas conversas diárias”, diz a educadora sexual Lydia Bowers. “‘Gosto quando você me abraça, fico quentinha’ e ‘não gostei quando ele pegou minha boneca, fiquei brava’. Esse tipo de frase dá às crianças a linguagem para descrever seus sentimentos, o que pode ser crucial para reconhecer quando elas se sentem inseguras, com medo ou preocupadas.”

É importante ajudar as crianças a praticar a identificação de sentimentos como medo, ansiedade, confusão, tristeza e desconforto. Os adultos não devem desprezar ou fazer pouco caso dessas emoções caso elas sejam expressadas pelos filhos.

 

Explique ‘toques desconfortáveis’

 

Educadores sexuais em geral consideram os termos “toque seguro” e “toque perigoso” melhor que “toque bom” e “toque ruim”. Pode ser fácil classificar os toques nas partes privadas como um exemplo de “toque ruim”, mas às vezes existem respostas fisiológicas que podem parecer boas, o que pode causar confusão.

“Toque perigoso” também compreende certas formas de contato que podem ser “boas” em outros contextos. “Um abraço é um toque ‘bom’, mas se for de alguém que não deveria te abraçar, pode ser ‘perigoso’”, diz Bowers.

“As pessoas também podem parecer ‘boas’, mas fazer escolhas perigosas”, afirma Carnagey. “Então é melhor usar termos como ‘seguro’ e ‘perigoso’ e basear as conversar com as crianças no reconhecimento das situações potencialmente perigosas.”

 

Não se concentre apenas no perigo dos ‘estranhos’

 

“As crianças sempre aprenderam a ter cuidado com estranhos, mas o caso Nassar é um bom exemplo do problema dessa ideia”, diz Carnagey. “Os abusadores muitas vezes são conhecidos das crianças ou já tiveram contato prévio com elas, então temos de falar em termos de ‘pessoas complicadas’", termo cunhado por Pattie Fitzgerald

Essa abordagem incentiva os pais a ensinar as crianças a reconhecer comportamentos dignos de confiança. 

“As pessoas confiáveis sempre falam a verdade, respeitam a privacidade, não pedem que as crianças guardem segredos, pedem ajuda para adultos (e não para crianças), transmitem sensação de segurança, respeitam as regras da família e lembram as crianças de pedir a permissão dos pais”, diz Cavill.

 

Deixe claro que elas sempre podem te procurar

 

É essencial que os pais sempre deixem abertas as “portas da conversa”, afirma Cavill. “As crianças vão usar essa porta para falar com você, mas só se ela estiver sempre aberta.” Os pais podem criar esse tipo de ambiente sendo receptivos a perguntas e conversas sobre sexo e relacionamentos.

É claro que falar é uma coisa, fazer, outra. A frase “você pode contar tudo para mim” perde o significado se os pais respondem perguntas sinceras com punição, reações agressivas ou exageradas e fazendo pouco caso. Os pais têm de estar cientes de suas respostas verbais ou não verbais, mesmo que a conversa seja difícil – ou que as crianças fiquem pouco à vontade para falar porque estão com medo da reação dos adultos.

“Se a criança relata um caso de abuso, é importante lembrar-se de manter o foco nela, não no abusador ou na sua reação”, diz Cavill. “Pode ser difícil, mas é importante, porque reagir com raiva, vergonha ou negação a esse tipo de revelação pode atingir a confiança da criança e impedir conversas futuras. Uma criança vulnerável pode ficar ainda mais vulnerável.”

 

Identifique adultos de confiança

 

Conforme as crianças vão crescendo, os adultos devem ajudá-las a identificar os adultos de confiança em suas vidas, como parentes e professores.  

“Em vez de chamá-los de ‘adultos de confiança’, pergunte: ‘Em que você acha que confiaria se precisasse de ajuda?’ ou ‘Com quem você ficaria à vontade para conversar se estivesse com algum problema e precisasse de ajuda?’”, afirma Carnagey.

“É importante que haja mais de uma pessoa, para que a ajuda esteja disponível na hora de necessidade”, diz ela. Abusadores às vezes são considerados pessoas de confiança (como era o caso de Nassar para muitas famílias.

 

Deixe claro que nunca é culpa das crianças

 

As crianças precisam saber que não são responsáveis pelos adultos à sua volta, incluindo seus pais.

“Como elas dependem tanto dos adultos, podem sentir-se responsáveis pelos sentimentos e comportamentos dos adultos que as cercam, especialmente aqueles em posição de autoridade ou as pessoas de quem gostam”, afirma Cavill. “Infelizmente, a maioria dos casos de abuso de crianças acontecem no contexto de relações próximas ou familiares. O movimento #MeToo indica como é comum que pessoas em posição de autoridade tiram proveito daquelas sobre as quais têm poder.”

 

Preste atenção aos sinais

 

Os pais conhecem os comportamentos típicos dos seus filhos e podem prestar atenção a eventuais sinais de problemas.

“Quero deixar muito claro que não há um limiar mínimo para procurar a ajuda de um terapeuta. Se estiver na dúvida, procure”, diz Cavill. “Dito isso, existem alguns sinais de alerta: conhecimentos ou comportamentos sexuais impróprios para a idade da criança, xixi na cama, resistência a trocar de roupa ou ficar nu, medo repentino de ficar sozinho ou longe dos pais e aumento da ansiedade.” 

 

Saiba como agir em caso de problemas

 

Se a criança relatar um “toque perigoso”, é essencial dizer que você acredita nela, que elas estão certas em procurá-lo e que o incidente não foi culpa dela. Responder com amor, compaixão e aceitação é muito importante.

“As crianças muitas vezes acham que são responsáveis pelo abuso, e os agressores às vezes culpam as crianças”, diz Bowers. “Tranquilize-a, dizendo que ela não tem culpa, que são amadas e estão seguras.”

Confira a reportagem completa aqui.

 

 

Para ler juntos: LEILA 

Finalista do Prêmio Jabuti de 2020 a obra conta a história de Leila, uma jovem baleia que é assediada pelo Barão que, contra a sua vontade, a beija, sussurra seduções, pede segredo e ainda corta os seus cabelos. Calada e petrificada, o terror toma conta de seu ser e ela desiste de nadar, mas ajudada pelos amigos, retoma a sua essência e a sua voz, dando fim às ameaças do agressor. 

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    LEILA

    O texto, que é uma narrativa pertencente ao maravilhoso fabular, vem acordar o leitor para o poder da voz. Ambientado no fundo do mar, metaforiza o poder da força vital, do inconsciente e do infinito, segundo o Dicionário de símbolos (há vários publi